Seria a língua portuguesa a última Flor do Lácio, a última herança romana no mundo que foi colonizado com o latim?

Após o início das navegações portuguesas e seus descobrimentos, sendo que efetivamente a descoberta foi das correntes e ventos marítimos, não se esquecendo da insuperável, naquela época, caravela e toda tecnologia alcançada em meados do século XV.

Escultura de Camões. Na foto em destaque, Casa dos Bicos, Fundação José Saramago (Foto: Mauro Moura)

Dentro de Portugal temos os regionalismos linguísticos e cada um com sua conotação e forma de expressão. Como a extensão geográfica é pouca, comparada ao Brasil e à África, é muito interessante oiçar o alfacinha, logo após o saloio ribatejano e em pouco tempo também admirar o minhoto, além de ter a oportunidade de encontrar alguém se expressando em mirandês.

Não posso afirmar, mas avançando naquelas rotas marítimas, tenho o criolo de Cabo Verde como a primeira descendente da língua portuguesa em seu mundo ultramarino. Aí sucede-se outro fato importante, das noves ilhas com população, cada um gaba-se de ser o seu falar criolo o mais bonito e provoca uma confusão danada ao tentar perceber o criolo badio, o de Santantão, do Fogo/Brava em contraponto ao de Soncent, passando pelo Mayo e a tranquila Boavista, sem contar o Sal que já se perde um pouco por estar se transformando em um enclave europeu.

O tetum de Timor-leste é a maior forma de expressão e permanência da cultura lusitana na Oceania.

As misturas em Gabão e Dili na Índia e Macau na China, nas quais os descendentes, como em Timor, procuram manter a língua portuguesa viva no seio da comunidade, mesmo com toda a influência das línguas locais.

Camões em arte de Daniel Dias

Chegando ao Brasil, no passado foi muito utilizado o “nhengatu” ou língua geral, muitissimamente utilizada até finais do século XIX, inclusive por ser umas das armas do exército brasileiro na Guerra do Paraguai.

Da influência desta língua que é a pura mistura do português com o tupi, tenho comigo que o nome de minha terra natal advém dela, pois sendo Itabira uma toponímia em que temos do tupi ITA que se traduz para pedra e BIRA não é uma expressão indígena. Considerando que a maior parte dos colonizadores era do Norte de Portugal que vieram em busca do ouro e pedras preciosas no século XVIII, lembrando que lá se diz para algo que vira como BIRA, daí temos ITA + BIRA. Há de se perceber que o minério de ferro que tínhamos em abundância em Itabira era a hematita, normalmente em forma arredondada ou abalada que se virava facilmente com a água ou ao ser jogada por alguém.

Na região do Rio Piracicaba em São Paulo surgiu o caipira e temos a dificuldade das pessoas daquela região em expressar a letra “R”, pois dizem poirta, poirca e etc.

Chiado e seus contos e casos

Sendo os antigos bandeirantes e sertanistas daquela região, esse mesmo caipira foi trazido por eles nos descobrimentos das lavras minerárias em Minas Gerais e aqui segue bem vivo no cotidiano das pessoas, no entanto, na região central as pessoas não têm aquela dificuldade com o “R”, ficando isto para os da região sul de Minas e os paulistas.

Em Minas Gerais também temos uma forte influência africana, principalmente do bantu e do umbundo e denota-se quando, ao invés de dizermos rabo, dizemos bunda.

Outra influência marcante, que vai além da língua portuguesa e nos remonta ao ladino, ou o espanhol judio, a língua utilizada pelos judeus sefaradita que foram as primeiros e principais pessoas que saíram em diáspora com as grandes navegações ainda em 1492 com o descendente de judeus portugueses Cristóvão Colombo, ou melhor dizendo, Salvador Fernandes Zarco.

Entre leituras e audições pelo mundo de expressão português, fui percebendo algumas nuâncias que levou-me a esta simples comparação, que carece de algum estudo mais acurado por um linguista dedicado à profissão.

Exemplos para a comparação:

PORTUGUÊS             LADINO                      CRIOLO                    CAIPIRA MINEIRO

mulher                         mudjer                          mudjer                        muié

milho                            midjo                            midjo                           mio

trabalho                       trabadjo                        trabadjo                      trabaio

Observando que a maioria dos bandeirantes e sertanistas eram os chamados cristãos-novos, ou seja, descendentes do judeus sefaraditas conversos ao catolicismo.

Creio que todos nós lusófonos, carregamos essa herança da última Flor do Lácio como nosso fado, não nos esquecemos e muito menos nos desligamos dela.

E parafraseando Fernando Pessoa:

-Quantos Pessoas

há em Pessoa

em que este,

por tanto prezar

a última Flor do Lácio,

ser a mim também,

nossa Língua,

a minha Pátria.

* Mauro Andrade Moura, genealogista

Leave a Reply